sábado, 11 de abril de 2009

Sabemos o que iremos colher, quando conhecemos as sementes



Caminhando pelos campos do passado distante, encontrei alguém esperando por mim. Era um homem que dormia à beira de um riacho, confortavelmente sobre a relva fresca, embalado pela brisa suave e pela musica perfeita dos pássaros.

Esse homem sonhava e no seu sonho encontrava-se com alguém em um tempo e lugar estranhos. Encontrava-se comigo. Caminhávamos sobre a areia do deserto, sob o sol escaldante. Buscávamos água para saciar nossa sede, para banhar nossos corpos. Nenhuma brisa, nenhuma ave para mostrar-nos o caminho, somente o céu, o deserto e a areia sob nossos pés.

A noite chegou, o deserto tornou-se frio e adormecemos.

Sonhei com o tempo, milhões de anos se passando, as guerras e divindades se sobrepondo, uma a uma, formando camadas, sedimentos da existência humana.

Sonhei com risos e gritos, dor e alegria, desespero e êxtase, numa cadeia de horas, dias anos e milênios, onde cada fato dava sentido ao próximo, perdendo o próprio sentido.

Despertei. A brisa beijava suavemente o meu rosto e a música perfeita da água do riacho era entrecortada pelo canto suave dos pássaros. Olhei para minhas mãos, repletas de relva e me descobri velho, tão velho quanto meu avô, quando o conheci aos quatro anos.

E assim é o nosso planeta, a casa das nossas sucessões, dos campos, dos desertos, do tempo correndo como o riacho, na dimensão que conhecemos.

Não há resposta que já não esteja escrita, código que não tenha sido decifrado, passado que já não tenha sido futuro, como uma imagem fantástica que percorre minha lembrança, através de um filme, do grande cinema, do mestre Ingmar Bergman : “O sétimo selo” .

Após dez anos de lutas, um cavaleiro retorna das Cruzadas e encontra o país assolado pela peste negra. Mergulha em uma crise existencial, passando a questionar sua fé e o próprio significado da vida. A Morte surge, na figura lúgubre de um homem, com o firme propósito de levá-lo, pois era chegada a sua hora. O cavaleiro quer um pouco mais de tempo e convida-a para uma partida de xadrez. Se ele ganhar ele fica, se perder partirá com a Morte, que naturalmente aceita o desafio, pois nunca perde.

Século XIV, é a época onde transcorre a narrativa de O Sétimo Selo. Representa o ápice da crise do sistema feudal, através da combinação de "guerra, peste e fome", que juntamente com a morte, simbolizam os "quatro cavaleiros do apocalipse" no final da Idade Média.

A decadencia do feudalismo, tem início no século XI e resulta de problemas estruturais, quando a elevada densidade demográfica na Europa, determinou a necessidade de crescimento na produção de alimentos, levando os senhores feudais a  aumentarem a exploração sobre os servos, que iniciaram uma série de revoltas e fugas, agravando a crise já existente. 


As cruzadas entre os séculos XI e XIII representaram um outro golpe para o sistema feudal, já que os seus objetivos mais imediatos não foram alcançados: Jerusalém não foi reconquistada pelos cristãos, o cristianismo não foi reunificado, e a crise feudal não foi sequer minimizada, já que a reabertura do mar Mediterrâneo promoveu o Renascimento Comercial e Urbano, que já sinalizam o "pré-capitalismo", na passagem da Idade Média para a Moderna. 


“Guerra, peste e fome", marcas do século XIV, afetaram tanto o feudalismo decadente, como o capitalismo nascente.

A guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre França e Inglaterra devastou grande parte da Europa ocidental, enquanto que a "peste negra" eliminou cerca de 1/3 da população européia. A destruição dos campos, assolando plantações e rebanhos, trouxe a fome e a morte. 


Nesse contexto de transição do feudalismo para o capitalismo, além do desenvolvimento do comércio monetário, surgiram transformações sociais, com a projeção da burguesia, políticas com a formação das monarquias nacionais, culturais com o antropocentrismo e racionalismo renascentistas, e até religiosas com a Reforma Protestante e a Contra Reforma. 


“Sabemos o que colheremos quando conhecemos as sementes.”

Essa é a moral da “história”. Não há resposta que já não esteja escrita, código que não tenha sido decifrado, passado que já não tenha sido futuro.

Não é o planeta Terra que pede socorro, somos nós , filhos desgarrados que perderam o caminho de casa.

Vivemos em uma eterna adolescência existencial, apesar de tanta história sob nossos travesseiros.

Precisamos evoluir, adquirir responsabilidade sobre o que praticamos.

O aquecimento global é nada se comparado ao congelamento de nossos corações.

A noção de humanidade foi corrompida  pela primeira esmola que se deu, pelo primeira bala perdida no tempo.

O instinto de auto preservação foi ultrajado, com a primeira floresta derrubada, com a primeira queimada.

Verde que te quero matas,

Amarelo que te quero ouro, para todos,

Branco que te quero paz,

Azul que te quero céu, que te quero mar, que te quero rios,

Ordem que te quero nova,

E Progresso, que te quero humano.


Publicado na Revista Kapa - 11/07/2007

 

 

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