sábado, 11 de abril de 2009

O início


1970,vivíamos em plena ditadura militar e nossa liberdade de expressão era calada pelo regime, que promoveu o momento político  mais obscuro da nossa história, conhecido como “ Os Anos de Chumbo”.

Mesmo de forma lenta e tardia, a sociedade brasileira sofria as influências transformadoras da revolução de comportamento que tomara conta do mundo e nos atingia especialmente através da música trazida pelas rádios e pelos fatos trazidos pela televisão, ao mesmo tempo éramos incentivados ao ufanismo inconsistente do “Milagre Brasileiro”.

Paradoxalmente, mesmo sob as mãos de ferro da censura oficial, surgiam manifestações culturais e de costumes, com fortes traços libertários.

Pessoalmente, eu vivia minha luta particular buscando conciliar o despertar de uma adolescência com a dura realidade imposta pela grave sequela de poliomielite contraída no meu primeiro ano de vida, havia treze anos. Estava em pleno processo de recuperação da minha terceira cirurgia e nada parecia estar dando certo naquele momento.

Em meio a esse cenário, numa certa manhã à véspera de completar 14 anos, sentei-me à mesa da cozinha para tomar meu café, coloquei a xícara de lado e escrevi o primeiro poema, uma quadra  intitulada  “Eu” .

Começava aí o exercício diário de uma devoção à escrita, a partir do qual  mudei a forma de relacionar-me com a realidade que me cercava, com as pessoas e com o mundo.

O segundo poema era um “Tributo a Che”, uma demonstração romântica do sentimento que pairava sobre a figura já mítica de Che Guevara, enquanto que no quinto poema demonstrava toda a aversão à figura de Fidel Castro repetindo uma frase típica da direita da época “Verde e amarelo, sem foice e sem martelo!”.

O amor era uma constante, como não poderia deixar de ser, todo romântico que se preza fala de amor, desde muito cedo.

Relendo os primeiros poemas, é interessante a observação da presença  de elementos que esboçavam uma certa crônica social bastante paulistana,  em que aparecem as “minis da Rua Augusta” , o “Surf” , “a moto de um pôster”, além daquilo que preenchia a cabeça de um jovem da época, como “Peace” ,  “John Lennon”, “Coca-Cola”, “Vietnan” etc.

Esse foi o início, o meio é onde estou vivendo  e o fim é apenas e simplesmente o prazer de escrever.

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