sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Espírito da Razão


Há momentos
em que
a maior prova
parece ser
o próprio momento
Por que tolerância?
Pra que esperança?
São perguntas
para nenhuma resposta
São sentimentos
simples convicção
Acordos secretos
entre espírito e razão

15,16/03/1981

A tua Paz...



Onde estiver
a tua paz
deixe que ela
te ensine
mais e mais
mesmo que lhe pareça
pouco
viver pelo viver
mesmo que lhes sejam breves
os momentos
de grande paixão
a  paz
a tua paz
vale teu mundo
e é
a matriz 
do teu sorriso
pelo que traz
pelo que faz

19/02/1981

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Macacos me Mordam!



A maioria dos homens
não difere muito dos macacos
Enquanto estes conservam traços selvagens
nós  somos
completamente domesticados

1981

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Alô ! Não há novas para lhe contar...





Alô! Não há novas para lhe contar
apenas desejo de lhe falar
Alô! Não há novas para lhe contar
somente vontade, sei lá!
Quem sabe os sonhos sejam os mesmos
não sei, sempre sonhei!
Não tenho medo de me perder
em um país tão grande
onde é tão fácil de se esquecer
Alô! Não há novas para lhe contar
Não prenderam ninguém
a miséria ainda é a mesma
e a ignorância
faz as leis desse velho rancho
Alô! Não há novas para lhe contar
Temos um presidente
Covarde e ignorante
como nossos políticos
sem honra
Alô! Não desligue!
Não há novas para lhe contar
Somos pobres
para a miséria poder continuar
e nossos inimigos são nascidos em casa
Alô! Não há novas para lhe contar
Cento e quarenta milhões
imaturos
vazios
órfãos da história
Alô! Não há novas para lhe contar
Apenas desejo, sei lá!
Não há homens nesse país
Um país de brancos
com alma negra
Alô! Não há novas para lhe contar
Temos uma constituição
gerada por ratos
temos eleição
para elegermos mais ratos
Alô! Não há novas para lhe contar
Agora estão falando da Amazônia
e da soberania nacional
você já viu as prostitutas de Marabá?
Você já olhou nos olhos de um garimpeiro?
Alô! Não há novas para lhe contar
A nação dos feriados
é a mesma que mantém os ladrões
Continuamos preguiçosos
Mas lotamos os salões
Alô! Não há novas para lhe contar
Não desligue!
é só vontade de lhe falar
A vergonha não nos abate
nossos erros jamais assumimos
e os próprios filhos
dia após dia
nós mesmos os destruímos
Alô! desculpe, foi engano!

1984

Todos os Caminhos se Cruzarão no Infinito



Aos que duvidam de Deus
a todos os órfãos
mais e mais 
a quem acredita no futuro
estenda a sua mão
abra seu coração

Aos perdidos pelas causas perdidas
àqueles que desejam a doçura do amor
sempre e para sempre
a quem sorri ao despertar
estenda a sua mão
abra seu coração

Aos apaixonados e esquecidos
a todos os atormentados
mais e mais
a quem duvida dos homens
estenda a sua mão
abra seu coração

Aos cúmplices incondicionais
àqueles que amam com o olhar
sempre e para sempre
a quem descobre e se deixa descobrir
estenda a sua mão
abra seu coração

Aos prisioneiros
aos libertados
aos companheiros
aos flagelados
aos justos
aos puros
aos cultos
aos burros
aos nobres
aos pobres
aos milionários

Não há tristeza sem volta
nem haverão caminhos sem alegrias

Aos amantes apaixonados
aos esquecidos e atormentados
mais e mais
a quem não precisa de amor
estendo a minha mão
abro meu coração

Àqueles que desejam sem desejar
aos que não buscam o paraíso
sempre e para sempre
a quem chora sem demonstrar
estendo a minha mão
abro meu coração

Aos senhores que lutam contra o tempo
às senhoras que não lutam contra o amor
mais e mais
a todos que fazem amor
estendo a minha mão
abro meu coração

1984

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Pão, miséria não!



Sou pão fresco
amanhecido
sem mesmo ter sido cortado
Alegria do conseguido
tristeza do desejado
Ah, miséria malvada!
Não me roube 
o miolo ocultado
tão branco
macio
e tão leve
Leve a casca
pelo forno torrada
dura e seca
como você
Miséria malvada!

Teus olhos, em nós



Querer teus olhos
sem ter a tua visão
Caminhar
Sem segurar tua mão
Sentir o frio da madrugada
sem tua pele
sem nada
Viver os segundos
esperando os minutos
pra ouvir tua voz
sem tua boca
sem minha boca
em nós

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Tanta turbulência...


            Tanta turbulência nesse mundo
            que os olhos da humanidade 
            acordam cansados
            os ouvidos confusos
            e as línguas exaustas
            pelo tempo perdido
            nesse calor sem brisa
            Tanta turbulência nesse mundo...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Viagem

Viagem ao passado

viagem para o futuro

viagem para o claro

viagem ao escuro

Somos passageiros

de um trem para o infinito

alguns viajam calmos

outros viajam aflitos

1993

 

 

Que as águas lavem a minha ignorância...


Aprendi algumas coisas importante ao longo desses anos.

Sempre me guiei muito pela emoção e conclui que é uma roubada;

Esse mundo é imperfeito e temos que manter a mente clara e o coração aberto, mas sem perdermos o foco da realidade;

Temos que conduzir nossa vida, não sermos conduzidos;

Temos que  controlar nossa energia e não sermos controlados por ela;

Temos que abrir nossa consciência encarando a impermanência de frente, dominando nosso medo e nunca, nunca sermos dominado por ele;

Somos os senhores do nosso tempo e espaço, até que o tempo se escoe e o espaço se torne infinito...

08/09/08

domingo, 12 de abril de 2009

Simples, como o sorriso do herói...



Não tenho feito outra coisa nos últimos tempos senão buscar a essência,
redescobrir o poeta , que embora louco quer tão pouco, viver...
No arco do tempo, lanço no espaço meus pensamentos,
espero,
olhando as estrelas,
que devolvam,
meus sentimentos,
minha calça está manchada,
meus sapatos estão velhos,
tenho um Chaplin dentro de mim...
Meus heróis estão desfeitos,
Dalai Lama,
sua careca me inspira,
sua verdade,
me chama,
na verdade,
preciso encontrar outro herói,
que sorria muito
e me lance no espaço,
junto com meus pensamentos

(12/02/2009)

sábado, 11 de abril de 2009

Essa alma quer reza!




Para aqueles que olham e apontam mais para meus defeitos

Quero dizer que aceito

O fato de que só serei perfeito

No dia em que deixar de ser

Para os olhos que me vêem distante

Sugiro que fixem o olhar por mais um instante

Até que surja a imagem pulsante

Do amor incondicional

Para os amantes da superfície

Que sofrem tanto com os dias difíceis

Lembro que as águas da impermanência

Ainda virão para tudo levar

Para as almas que querem reza

Admito que a idade pesa

Mas sempre buscarei forças

Para nunca deixar de rezar

14/03/2009

Visão do amor



Não tenho tempo

Nessa manhã

Pingam os minutos

Na minha janela

Pela manhã

Tudo se faz

Em nome do amor

Distraio os sentidos

Buscando um sorriso

Ela já não entende as coisas

Que nunca entendeu

Procuro meus olhos

Devolvam meus olhos!

Quero enxergar

A cor da sua íris

Os cabelos da sua alma

Não tenho tempo

Na minha janela

Tudo se faz

Buscando um sorriso

Procuro meus olhos

Pela manhã

Em nome do amor

 

24/02/2006

Ex Poente




As vezes tento mencionar um poente
e senti-lo é melhor
calado
vendo e vivendo o momento
do melhor poente
e sabendo
que esse estado de coisas
não é para sempre
não é permanente
que paira a dúvida
junto da crueldade
e que um momento que se perde
não tem preço
nem medida
pra nossa bondade
pois quando se escolhe uma escolha
não se mede a quantidade
se mede a qualidade
ser um homem bom não é escolha
é destino do alvejado
tiro certeiro em alvo parado
encanto de uma alma bendita
que chegou de tanta malícia
que batalha contra a preguiça
e descobriu ter um corpo sagrado
capaz de amar
trabalhar
brincar e viver
sem parar de crescer
por esse tempo mundo afora
saber conduzir sua lanterna
e saber dividir sua luz
ser homem é fácil
o difícil é ser homem fácil
velozmente
velozmente
estamos aqui
e de repente
o ali nos chama
e nós partiremos
mas deixaremos sementes
e quem sabe seremos nós mesmos
o próximo poente.

1976

Sabemos o que iremos colher, quando conhecemos as sementes



Caminhando pelos campos do passado distante, encontrei alguém esperando por mim. Era um homem que dormia à beira de um riacho, confortavelmente sobre a relva fresca, embalado pela brisa suave e pela musica perfeita dos pássaros.

Esse homem sonhava e no seu sonho encontrava-se com alguém em um tempo e lugar estranhos. Encontrava-se comigo. Caminhávamos sobre a areia do deserto, sob o sol escaldante. Buscávamos água para saciar nossa sede, para banhar nossos corpos. Nenhuma brisa, nenhuma ave para mostrar-nos o caminho, somente o céu, o deserto e a areia sob nossos pés.

A noite chegou, o deserto tornou-se frio e adormecemos.

Sonhei com o tempo, milhões de anos se passando, as guerras e divindades se sobrepondo, uma a uma, formando camadas, sedimentos da existência humana.

Sonhei com risos e gritos, dor e alegria, desespero e êxtase, numa cadeia de horas, dias anos e milênios, onde cada fato dava sentido ao próximo, perdendo o próprio sentido.

Despertei. A brisa beijava suavemente o meu rosto e a música perfeita da água do riacho era entrecortada pelo canto suave dos pássaros. Olhei para minhas mãos, repletas de relva e me descobri velho, tão velho quanto meu avô, quando o conheci aos quatro anos.

E assim é o nosso planeta, a casa das nossas sucessões, dos campos, dos desertos, do tempo correndo como o riacho, na dimensão que conhecemos.

Não há resposta que já não esteja escrita, código que não tenha sido decifrado, passado que já não tenha sido futuro, como uma imagem fantástica que percorre minha lembrança, através de um filme, do grande cinema, do mestre Ingmar Bergman : “O sétimo selo” .

Após dez anos de lutas, um cavaleiro retorna das Cruzadas e encontra o país assolado pela peste negra. Mergulha em uma crise existencial, passando a questionar sua fé e o próprio significado da vida. A Morte surge, na figura lúgubre de um homem, com o firme propósito de levá-lo, pois era chegada a sua hora. O cavaleiro quer um pouco mais de tempo e convida-a para uma partida de xadrez. Se ele ganhar ele fica, se perder partirá com a Morte, que naturalmente aceita o desafio, pois nunca perde.

Século XIV, é a época onde transcorre a narrativa de O Sétimo Selo. Representa o ápice da crise do sistema feudal, através da combinação de "guerra, peste e fome", que juntamente com a morte, simbolizam os "quatro cavaleiros do apocalipse" no final da Idade Média.

A decadencia do feudalismo, tem início no século XI e resulta de problemas estruturais, quando a elevada densidade demográfica na Europa, determinou a necessidade de crescimento na produção de alimentos, levando os senhores feudais a  aumentarem a exploração sobre os servos, que iniciaram uma série de revoltas e fugas, agravando a crise já existente. 


As cruzadas entre os séculos XI e XIII representaram um outro golpe para o sistema feudal, já que os seus objetivos mais imediatos não foram alcançados: Jerusalém não foi reconquistada pelos cristãos, o cristianismo não foi reunificado, e a crise feudal não foi sequer minimizada, já que a reabertura do mar Mediterrâneo promoveu o Renascimento Comercial e Urbano, que já sinalizam o "pré-capitalismo", na passagem da Idade Média para a Moderna. 


“Guerra, peste e fome", marcas do século XIV, afetaram tanto o feudalismo decadente, como o capitalismo nascente.

A guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre França e Inglaterra devastou grande parte da Europa ocidental, enquanto que a "peste negra" eliminou cerca de 1/3 da população européia. A destruição dos campos, assolando plantações e rebanhos, trouxe a fome e a morte. 


Nesse contexto de transição do feudalismo para o capitalismo, além do desenvolvimento do comércio monetário, surgiram transformações sociais, com a projeção da burguesia, políticas com a formação das monarquias nacionais, culturais com o antropocentrismo e racionalismo renascentistas, e até religiosas com a Reforma Protestante e a Contra Reforma. 


“Sabemos o que colheremos quando conhecemos as sementes.”

Essa é a moral da “história”. Não há resposta que já não esteja escrita, código que não tenha sido decifrado, passado que já não tenha sido futuro.

Não é o planeta Terra que pede socorro, somos nós , filhos desgarrados que perderam o caminho de casa.

Vivemos em uma eterna adolescência existencial, apesar de tanta história sob nossos travesseiros.

Precisamos evoluir, adquirir responsabilidade sobre o que praticamos.

O aquecimento global é nada se comparado ao congelamento de nossos corações.

A noção de humanidade foi corrompida  pela primeira esmola que se deu, pelo primeira bala perdida no tempo.

O instinto de auto preservação foi ultrajado, com a primeira floresta derrubada, com a primeira queimada.

Verde que te quero matas,

Amarelo que te quero ouro, para todos,

Branco que te quero paz,

Azul que te quero céu, que te quero mar, que te quero rios,

Ordem que te quero nova,

E Progresso, que te quero humano.


Publicado na Revista Kapa - 11/07/2007